Marca de carnes criada por Amália Sechis valoriza bem-estar animal e já recebeu certificado de sustentabilidade


Empreendedora já foi vegetariana, mas conheceu processos humanizados de abate e teve o estalo de desenvolver a Beef Passion durante uma aula de economia no curso de direito

DivulgaçãoAmália Sechis é fundadora da primeira marca de carne brasileira 100% sustentável

Ela já foi vegetariana, pois acreditava que pecuária era sinônimo de crueldade animal. Foi só depois de conhecer de perto a forma como os animais são tratados que Amália Sechis, nossa Mulher Positiva desta semana, percebeu que há, sim, processos que levam critérios de sustentabilidade e bem-estar animal. Fundadora da Beef Passion, primeira marca de carne brasileira 100% sustentável e certificada internacionalmente pela Rainforest Alliance, a também advogada, acredita que os empreendedores precisam de paixão pela ideia. Para Amália, nada substitui o brilho dos olhos a fim de envolver pessoas em projetos. “Empreender no Brasil é um jogo de agilidade e de combate à ineficiência. Isso gera mais oportunidades, sim, mas também o maior desafio. Quando digo desafio, digo que não é fácil convencer as pessoas de que existe algo melhor do que ao que elas estão acostumadas há anos”, disse.

1. Como começou a sua carreira? Com uns sete anos fazia pulseiras de miçangas para vender a amigos e familiares nas férias, mas meu primeiro trabalho com carteira assinada foi aos 17 anos como Vendedora de uma loja de roupas. Nesse período fiz faculdade de direito e, ao final do curso, já fazendo estágio no Gaeco, decidi criar a Beef Passion. Lembro como se fosse hoje o dia, em 2012 com muita curiosidade, vontade de aprender e bastante confiança no produto que ali nascia. Na época, eu não comia carne e muito menos entendia nada sobre esse mercado. Mas tudo fica mais fácil quando há uma paixão por trás, embora somente ela não seja suficiente.

2. Como é formatado o modelo de negócios do Beef Passion? Para responder essa pergunta, vou destrinchar passo a passo toda a cadeia de produção da empresa:

Modelo de negócio

Nosso conceito produtivo é o oposto do que a eco­nomia que vi­vemos se es­ta­be­leceu no pa­ra­digma me­ca­ni­cista, em que tudo tende a ser mer­can­ti­li­zado, com es­calas de pro­dução uti­li­tá­rias e não como pro­dução com valor de uso so­cial. A Beef Passion nasceu do desejo de criar um conceito mais consciente, livre de tendências, fiel ao nosso propósito e buscando inspirar mudanças na cultura e na forma como as pessoas se relacionam com a carne. A partir de uma operação verticalizada, empresa desenvolveu ­critérios de pro­dução al­ter­na­tiva e humanizada, com foco na sustentabilidade, adotando sistemas de gestão integrada com certificação de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança do trabalho. Investimos em bi­o­di­nâ­mica, a agri­cul­tura de subsistência con­sor­ciada, com pes­quisas de fauna e flora, qualidade do solo, redução de emissão de gases, qualidade nutricional e bem-estar animal. Produzimos e desenvolvemos produtos conectados à origem, qualidade, responsabilidade e sustentabilidade. Além de tudo isso, a Beef Passion está sempre conectada às pesquisas em universidades, trazendo para o mercado novas referências por aqui desconhecidas. A ideia de uma nova marca de carne surgiu quando eu terminava a faculdade de direito e, em uma aula de economia, pensei em um modelo de negócio criado a partir do conceito do meu pai. Vim de uma família com presença no ramo do agronegócio, a Agropassion. Em 2015 a Beef Passion recebeu o certificado internacional da Rainforest Alliance, tornando-se a primeira empresa produtora de carne brasileira a alcançar a certificação de agricultura sustentável, atestando a excelência socioambiental em todo o sistema de produção, nos colocando em igualdade com as melhores fazendas produtoras do mundo.

Na área ambiental, as fazendas precisam estar rigorosamente cadastradas no CAR (sistema nacional de cadastro ambiental rural) e também estarem georreferenciadas. As APPs (áreas de preservação permanente) e as nascentes devem estar 100% cercadas e sem nenhum desmatamento nos últimos 15 anos. É proibido o corte de árvores, e as as pastagens devem ter curva de nível sem qualquer ausência de erosões. Todos os funcionários possuem certificado de uso e roupas adequadas para aplicação de defensivos, além de área de banho construída para lavagem da roupa utilizada. Todas atividades são desenvolvida com uso de EPIs. Na parte social, é proibido haver mão de obra escrava e trabalhadores infantis. Todos os trabalhadores devem, obrigatoriamente, estar registrados no regime CLT. As residências dos funcionários devem possuir cerca viva (para evitar poeira nas casas), água encanada própria para consumo, rede de esgoto, fossa séptica, energia, forro e boa ventilação. A água fornecida nas residências é tratada, cristalina e possui análise de coliformes e de minerais. No final. tudo isso dá as condições para nossas duas linhas de produtos: clássico (genética Angus) e reserva (genética Wagyu), com mais de 60 tipos de cortes bovinos em cada um.

Atividade-chave

Venda de carne premium bovina, das raças Angus e Wagyu, com proposta de aproveitamento integral do animal em modelo de produção sustentável e certificado.

Recursos-chave

  • Animais de genética selecionada;
  • Ambiente de crescimento e engorda controlados em qualidade e bem-estar;
  • Nutrição balanceada;
  • Equipe técnica treinada e focada no equilíbrio homem/ambiente/animal.

Proposta de valor

Carne de origem sustentável certificada, de genética diferenciada, com qualidade organoléptica superior (premium).

Canais de Venda

  • Pessoa física (loja, WhatsApp e site);
  • Pessoa jurídica (venda direta).

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Nossa, são tantos. É desafiador falar sobre empreendedorismo, sobre ser CEO mulher sem ser “clichê ou prepotente”, ainda mais atuando em uma área dominada pelo mercado masculino. São incontáveis os desafios e aprendizados. Atuo num universo habitualmente masculino e sempre me posicionei de modo que, se não houvesse nenhuma figura feminina naquele lugar, ali eu estaria. Mas as maiores dificuldades surgiram da falta de experiência ou de conhecimento específico que envolve uma organização, governança, desenho de processos e, principalmente, a burocracia do sistema tributário. Empreender no Brasil é um jogo de agilidade e de combate à ineficiência. Isso gera mais oportunidade de se empreender no Brasil, sim, mas também o maior desafio. Quando digo desafio, digo que não é fácil convencer as pessoas de que existe algo melhor do que ao que elas estão acostumadas há anos. No início, enfrentei algumas barreiras que, infelizmente, existem até hoje para que o varejo consciente (que ainda é muito pequeno comparado a outros países) seja o diferencial qualitativo do meu produto.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? O planejamento/organização é um recurso essencial para tentar atingir o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Por mais que tenhamos as nossas prioridades, quanto melhor nos programamos, mais coisas conseguimos fazer.

5. Qual seu maior sonho e a sua maior conquista? Durante esses anos, a vida me fez questionar muitas coisas, inclusive sobre o propósito e objetivo daquilo que fazemos. É aquela coisa sobre os sonhos e conquistas: Eu vou conseguir? E se estiver desistindo pouco antes de chegar lá? Mas será que algum dia a gente chega lá? Não sei… Espero que sim e que não! Parece que, chegando lá, termina-se a jornada, que não há nada depois. Mas, ao mesmo tempo, deve dar uma sensação de alívio e conquista. A verdade é que espero um dia sentir ter conquistado meus sonhos de hoje (que são muitos), mas que eles tragam mais sonhos para que a jornada não termine. Meu sentimento é intangível.

6. Livro, filme e mulher que admira. Livro: “Mindset”. Meu filme preferido é “O Rei Leão”. E admiro Luiza Helena Trajano.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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