Catástrofe no RS: produção de soja e leite deve cair no Estado


Além dos impactos humanitários, as fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul deverão trazer impactos na produção de soja e leite do Estado. Segundo a Emater-RS, 25% da safra da oleaginosa ainda estava no campo para ser colhida e agora estão tomadas pela enchente. Além da soja, há preocupação com a pecuária, já que algumas propriedades estão isoladas. Entre os impactos já surgem dificuldades no escoamento do leite, chegada de ração e atendimento de veterinários aos animais. Confira alguns trechos da conversa que tive com o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, e com o vice-presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês (Gadolando), Nacir Penz.

Como está a situação do agro no Rio Grande do Sul neste momento?
Gedeão Pereira:
Nós temos muitos municípios isolados por quedas de barreiras, quedas de pontes, destruição de rodovias… E municípios que estão com dificuldade notadamente, principalmente aqueles da metade norte que são muito focado no gado de leite, também ligados à avicultura, à suinocultura. E esse pessoal hoje está com dificuldade de levar ração. As duas grandes lavouras prejudicadas é o arroz, que faltava colher. Nós já estávamos com uma colheita bastante adiantada. Diz a Emater que já estávamos em torno de 70% do arroz do Rio Grande Do Sul colhido, talvez seja exatamente isso. Então, esse arroz já está salvo. E o que sobrou, evidentemente, que se ele não está embaixo d’água, o arroz é bem mais resistente, vamos dizer assim, a esse tema do excesso de chuvas.  Agora, realmente a soja é muito preocupante. Além das lavouras que estão embaixo d’água na região do litoral, nós temos as regiões do resto do Estado do Rio Grande do Sul que estão com a colheita atrasada podem sofrer uma baixa qualidade. […] A preocupação é que, se o tempo não abrir, que possamos também vir a ter prejuízos, mas por outra causa. Ou seja, é o grão arder dentro da vagem, a vagem estourar e perder produto, perder qualidade do produto.

Quais os impactos na pecuária?
Nacir Penz:
Nós temos hoje já em torno de 40% da nossa produção com alguma dificuldade de coleta — e a coleta é diária, a ordenha é duas, três vezes por dia. Então, temos essa dificuldade enorme primeiro daquelas perdas imediatas, que já aconteceram. Na região baixa, região de Estrela, Lajeado, as propriedades estão debaixo d’água. As imagens mostram que não se vê mais o telhado, está tudo debaixo d’água. Rebanhos por completo foram com a água, se perderam, e o que não se perdeu vai adoecer, vai passar por pneumonias e tudo mais. Depois de baixar a água, nós temos um problema que são as sequelas muito graves de acesso. Então, tem propriedades que receberiam ração do mês ontem. Hoje, amanhã não vão receber. O óleo diesel que estão usando nas fazendas para fazer ordenha está acabando. As pessoas estão se aventurando por entre os matos para tentar chegar a algum ponto com óleo diesel ou usaram parte do óleo diesel com tratores tentando liberar a estrada e foram afetados porque outra barreira veio e trancou. É bem caótica a situação, é desolador, é muito preocupante. Infelizmente, nós temos um cenário onde as muitas propriedades pararam de produzir leite nos últimos tempos e isso vai se acentuar. Essa curva vai subir mais do que vem subindo. E fica difícil você sentar com uma pessoa que foi afetada a forma como foi e vem sendo prejudicada pelas políticas de preço, como estão sendo nos últimos mais de ano já né, de uma forma, muitas vezes, quase que criminosa. E isso está acontecendo tudo em uma sequência tão curta de tempo, vai tirar muitos produtores da atividade, infelizmente.



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