Após uma menina de 11 anos ser atacada por um cachorro dessa raça, representante do governo britânico disse que avalia uma possível proibição do animal no país. Foto mostra cachorro da raça Bully de perfil
REUTERS via BBC
O governo britânico avalia uma possível proibição de cães da raça American Bully XL no país, segundo a secretária do Interior do Reino Unido, Suella Braverman, afirmou no domingo (10).
A declaração foi feita depois que um cachorro do tipo avançou em uma menina de 11 anos. As imagens do ataque, que aconteceu no sábado (9), na cidade de Birmingham, na Inglaterra, foram compartilhadas na internet.
Braverman classificou o ocorrido como “terrível” e disse que a raça representa um perigo “mortal”, particularmente para as crianças.
A polícia da região de West Midlands investiga o caso. A garota foi mordida pelo cachorro durante um passeio na região central da cidade.
Dois homens que prestaram socorro também foram mordidos e ficaram com ferimentos nos ombros e nos braços.
O cão foi levado a um veterinário para ser examinado. Depois, ele foi enviado para um canil enquanto as investigações então em andamento.
O dono do cachorro foi interrogado pelos policiais.
Depois que as imagens do ataque foram divulgadas nas redes sociais, Braverman compartilhou no X (o antigo Twitter):
“Isso é terrível. O American XL Bully é um claro e mortal perigo para nossas comunidades, especialmente para as crianças.”
“Não podemos continuar assim. Encomendei um aconselhamento urgente sobre a proibição [da raça no país].”
O ex-secretário de Justiça do Reino Unido, Robert Buckland, também compartilhou:
“Estou profundamente preocupado com o aumento dos ataques a pessoas, animais de estimação e gado por cães [da raça] XL Bully. O governo deveria tomar medidas e proibir esses cães.”
Alguns especialistas ponderam, no entanto, que a proibição de raças específicas não é o melhor caminho (veja mais a seguir).
O American Bully XL não está sujeito a quaisquer restrições legais no Reino Unido
GETTY IMAGES via BBC
O American Bully XL não está sujeito a quaisquer restrições legais no Reino Unido.
No Brasil, o cenário é parecido: há canis que vendem filhotes dessa raça — também conhecida como “Pit Monster” — pelas redes sociais e em sites de comércio eletrônico.
No Reino Unido, o estudo sobre a proibição da raça em terras britânicas já havia sido encomendado na semana passada, disse uma fonte do governo à BBC News.
Adicionar raças de cães à lista de banidos é responsabilidade do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) do Reino Unido.
No país, é ilegal possuir, criar ou vender cães que aparecem na lista de banidos do Defra — atualmente, as raças proibidas são o pit bull terrier, o tosa inu, o dogo argentino e o fila brasileiro.
No Brasil, projetos de lei em discussão no Congresso Nacional tentam prevenir acidentes do tipo.
Um deles (o PL 4871/20) determina que “cães perigosos ou potencialmente perigosos sejam conduzidos em locais públicos com condutor, focinheira, estrangulador e coleira”. Outro (o PL 2376/2003) fala em proibir a “comercialização, reprodução e importação de cães da raça ‘Pitt Bull'”.
Algumas cidades brasileiras possuem leis específicas que proíbem a posse ou a circulação livre de algumas espécies de cães.
Segundo a agência de notícias PA, há preocupações sobre a viabilidade de adicionar o Bully XL à lista de banidos no Reino Unido.
O cão não é reconhecido como uma raça específica pelo UK Kennel Club, a maior organização que trabalha pela saúde, o bem-estar e o treinamento canino no país.
Um porta-voz do Defra declarou: “Levamos muito a sério os ataques de cães e o comportamento antissocial. Estamos garantindo que toda a força da lei seja aplicada.”
“Isso pode variar de Avisos de Proteção Comunitária — que exigem que os donos de cães tomem as medidas apropriadas para lidar com o comportamento do animal — até transgressões mais graves à Lei de Cães Perigosos, onde as pessoas podem ser presas por até 14 anos, perder a posse do cão ou até resultar na eutanásia de animais perigosos.”
Proibir é o melhor caminho?
Em artigo publicado no The Conversation, site de notícias acadêmicas, Carri Westgarth e John Tulloch, professores da Universidade de Liverpool, apontam que os ataques de cães estão aumentando.
“Pesquisas mostram que uma em cada quatro pessoas já foi mordida por um cachorro durante sua vida, mas menos de 1% das mordidas resultam em internação hospitalar. Nossa pesquisa revelou que as internações hospitalares na Inglaterra por ‘mordida ou ataque de cachorro’ aumentaram ao longo de um período de 20 anos, de 1998 a 2018.”
Segundo eles, o aumento na incidência de mordidas de cachorro está concentrado em adultos, cujos números triplicaram nas últimas duas décadas.
Os especialistas ainda apontam que “há poucas evidências científicas consistentes de que algumas raças são inerentemente mais agressivas do que outras”.
“Nossas avaliações sugerem que as raças relatadas em casos de mordidas são simplesmente as raças mais populares naquela região”, dizem eles.
“No entanto, quando examinamos as raças envolvidas em fatalidades, fica claro que a maioria delas é grande e poderosa. Isso não significa que raças menores não possam causar mortes — elas já foram conhecidas por isso.”
“Um fator complicador aqui é a distribuição das raças, já que raças poderosas sempre estiveram ligadas a comunidades carentes, onde a violência e lesões já são centrais. Algumas evidências relacionam essas raças ao status ou uso criminal, mas a maioria é de animais de estimação da família.”
Além de escolher as raças adequadas para cada contexto e pesquisar a genética dos progenitores, Westgarth e Tulloch apostam no caminho da prevenção.
“Melhorar as expectativas das pessoas sobre como é o bom cuidado do bem-estar dos cães é fundamental para minimizar situações de medo e frustração para os cães. Isso inclui não abusar dos cães em nome do treinamento e fornecer exercícios e espaço suficientes.”
“Os métodos de treinamento devem ser gentis e baseados em recompensas, pois os métodos baseados em punição estão associados a menor sucesso e maior estresse, medo e agressão”, concluem eles.
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